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Alessandra Guilhermino

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A REPRESENTAÇÃO DO ÍNDIO EM GANDAVO NO SÉCULO XVI

1.1) INTRODUÇÃO

A terra encontrada pelos europeus denominada de Novo Mundo representou um novo passo para a sua economia, para a expansão da fé católica. O nome Brasil que veio a ser dado às terras descobertas por Pedro Álvares Cabral, em abril de 1500, possui uma historia particular, misturando as lendas mais extraordinárias com os interesses materiais mais concretos e imediatistas. Cabral deu à terra o nome de Ilha de vera Cruz, após a primeira missa rezada em Porto seguro, mas convencido por seus capitães acerca da provável continentalidade das terras descobertas, mudou seu nome para Terra de Santa Cruz. mas também esse nome sagrado não prosperou na denominação da terra.

Escrevendo em 1627, frei Vicente do Salvador ousou estabelecer uma relação entre triunfo do nome Brasil, a exploração da madeira tintória e os ardis do demônio no Novo Mundo. Explicou que, como o diabo perdera o controle sobre os homens após o advento do cristianismo, mudara-se para o mundo desconhecido, ora descoberto, e "receando perder também o muito que tinha em os homens desta terra", trabalhou para que se esquecesse o nome de Terra de Santa Cruz e "que lhe ficasse o de Brasil, por causa de um pau assim chamado de cor abrasada e vermelha com que tingem panos".

[...] Para frei Vicente, o demônio levou a melhor: Brasil foi o nome que vingou, e o frade lamenta que se tenha esquecido a outra designação, muito mais virtuosa e conforme aos propósitos salvacionista da brava gente lusa [...]. (MELLO E SOUZA, 1989, p.29)

Os indígenas exibiam costumes, hábitos e modos de vida diferentes dos portugueses. Eram, ao olhar do colonizador, povos primitivos, distantes de uma vida social completa, essa diferença provocou um sentimento de rejeição. Por outro lado, a "inoscência" e a "falta de maldade" despertou nos europeu a idéia de Paraíso e pureza original, fazendo assim uma espécie de analogia a Adão e Eva seres puros antes da consumação do pecado.

[...] "Idealizando a condição primeira do mundo, o primitivismo doce se harmonizaria com uma concepção religiosa da vida - época em que Eva fiava e Adão tecia. Por sua vez, o primitivismo duro se associaria ao materialismo". (MELLO E SOUZA, 1989, p.44)


O objetivo desse trabalho é tentar compreender alguns aspectos da visão lusitana em relação ao índio brasileiro, pois em vários documentos fica-nos claro à visão de que o ameríndio era apenas uns seres bestiais, preguiçosos e desaculturados.

[...] 'Vivem sem ter conta, nem peso, nem medida [...].' (MELLO E SOUZA, 1989,  p.56)


O Novo Mundo, em específico a América portuguesa foi vista pelos europeus coo uma terra demoníaca e repleta de fantasias. Essa visão transparece nos relatos de viajantes e baseava-se no imaginário quinhentista e seiscentista fomentado em explicações de cunho religioso. Laura de Mello e Souza deixa-nos claro a visão  demoníaca em relação ao índio:

Mas a grande vedete da demonologia americana é o diabo: é ele que torna a natureza selvagem e indomável, é ele que confere os tributos da estranheza e da indecifrabilidade aos hábitos cotidianos dos ameríndios, é ele sobretudo que faz das práticas religiosas dos autóctones, idolatrias terríveis e ameaçadoras, legitimando assim a extirpação pela força. Com a cristianização mais homogênea do Velho Continente, como ficou dito acima, o diabo se mudará para o Novo. (MELLO E SOUZA, 1986, p.29)



Na verdade a terra do Brasil era vista pelos lusitanos como "paraíso" e ao mesmo tempo "inferno". na visão portuguesa no século XVI, ainda mergulhada na cultura medieval muitos dos adjetivos lançados sobre o índio brasileiro eram fantasiosos, pois o homem lusitano só procurava identificar as imagens do que se ouvia dizer em Portugal sobre descobertas em terras distantes.

[...] procurando associar o que via ás narrativas de viagens de Monticorvino, Pian Del e tantos outros exploradores medievais que do século XIII até fins do século XIV, percorreram a Ásia e a região do Índico beneficiando-se da "Pax Mongólica". Todo um universo imaginário acoplava-se ao novo fato, sendo simultaneamente, fecundado por ele: os olhos europeus procuravam a confirmação do que já sabiam, relutantes ante o conhecimento do outro. (MELLO E SOUZA, 1986, p.21)



1.2)  JUSTIFICATIVA




1.3) BALANÇO HISTORIOGRÁFICO

Utilizarei como bibliografia principal dois livros de Laura de Mello e Souza: "O Diabo e a Terra de Santa Cruz" e o "Inferno Atlântico: demonologia e Colonização séculos XVI-XVIII". Além disso, outra obra importante será: "As Imagens da Colonização: a representação do Índio de Caminha a Vieira" de Ronald Raminelli.

Os livros de Mello e Souza têm em comum uma discussão sobre o imaginário do homem europeu, a relação existente entre imagem e o índio que está implicitamente assimilada ao indígena que ela representa, o europeu traz para o Novo Mundo o seu imaginário agregando-o a cultura ameríndia. O livro "O Diabo e a Terra de Santa Cruz" se refere à América Portuguesa, onde o português impõe a catequização ao índio proporcionando a conversão como única alternativa de não ser mais possuído pelo demônio, livrando-se do pecado original. Os europeus explicavam o "barbarismo" indígena por intermédio da natureza, vendo-os quase como animais. Mas o barbarismo poderia ser obra do demônio, as guerras, o canibalismo, a nudez e certas manifestações que chamaram de feitiçaria resultariam do domínio infernal sobre o continente, só extirpável pela intervenção da cruz ou da espada. O livro Inferno Atlântico: demonologia e colonização séculos XVI-XVII", relata a demonização das novas terras e a função cristianizadora dos lusitanos. Além disso, Mello e Souza discute sobre a feitiçaria no Brasil colonial perseguida desde a Baixa Idade Média, onde essa prática virou verdadeira obsessão da Igreja e dos estados europeus nos séculos XVI e XVII.

Foi o período de "caça as bruxas", estimulado pela vasta  tratadística demonológica então produzida. Entretanto, os portugueses, diferentemente dos espanhóis demonizaram menos o Novo Mundo e não produziram tratadística expressiva sobre o tema. Assim, o sabá diabólico não foi rastreado na América portuguesa. O livro "Imagens da Colonização: a representação do índio de Caminha a Vieira" de Ronald Raminelli está sendo utilizado como fonte de apoio para uma melhor compreensão das fontes primárias. Ele aborda a origem dos indígenas, suas crenças e práticas, a sua vida primitiva comparada aos valores sociais e cristãos europeu. Utilizando as várias cartas jesuíticas do primeiro século, o autor extrai interpretações instigantes e originais, confirmando mais uma vez que, em história a documentação é inesgotável, sempre passível de abordagens diferentes. A análise das representações iconográficas sobre o Novo Mundo constitui um dos pontos altos de seu trabalho é compreender o significado das imagens produzidas pelos europeus a cerca dos índios da América portuguesa no decorrer do século XVI.


1.4) APRESENTAÇÃO  DO PROBLEMA

Quais as representações de Pero Magalhães sobre o índio no século XVI?


2) HIPÓTESE

As representações sobre o índio em Pero Magalhães Gandavo, estão associadas à idéia de bestialidade e selvagerismo. demonstrando uma forma específica de gerar conhecimento que mostra predomínio do olhar sobre o escutar.


3) OBJETIVOS

Geral
Identificar nas fontes primárias de Pero Magalhães Gandavo, a representação dos portugueses em relação ao indígena.

Específico

  • Compreender a catequese como forma de expansão católica.
  • Analisar o progresso da escravidão indígena.
  • Apresentar como se deu o primeiro contato entre europeus e indígenas.

4) INSTRUMENTAL TEÓRICO, MÉTODOS E TÉCNICAS

Representação é o conceito que utilizarei na minha pesquisa de monografia, o propósito será o de compreender as influências do meio e a apropriação trabalhado no livro de Roger Chartier, A beira da Falésia: a história entre incertezas e inquietudes. O conceito de representação passou a fazer parte do vocábulo histórico, a partir da relação entre a história e as demais disciplinas das Ciências sociais. Chartier afirma que o conceito de representação tem, em sua base etimológica, uma duplicidade de significado, cuja aplicação, dera procedimentos teóricos de oposição".

De um lado, a representação manifesta uma ausência, o que supõe uma clara distinção entre o que representa e o que é representado; de outro, a representação é a exibição de uma presença, a apresentação pública de uma coisa ou de uma pessoa. (CHARTIER, 2002, p.76)

Chartier habilita teoricamente, o conceito de representação, como chave para a compreensão de uma dada realidade histórica. Ao superar o caminho inicial de ideais, assentado no conceito de mentalidade, a noção de representação traria três formas de articulação das idéias, valores e sentimentos com a dinâmica do mundo social.


Primeiro, o trabalho de classificação e de recorte que produz as configurações intelectuais múltiplas pelas quais a realidade é contraditoriamente construída pelos diferentes grupos que compõem uma sociedade; em seguida, as práticas que visam a fazer reconhecer uma identidade social, a exibir uma maneira própria de estar no mundo, a significar simbolicamente um estatuto e uma posição; enfim, as formas institucionalizadas e objetivadas graças às quais 'representantes' (instâncias coletivas ou indivíduos singulares) marcam de modo visível e perpetuado a existência do grupo, da comunidade ou da classe. (CHARTIER, 2002, p.73)

O conceito de representação servirá para entender como Pero de Magalhães Gandavo, via os índios no século XVI. Como essa classe, grupo ou sociedade enxergava o aborígena.


[...] A relação de representação é assim turvada pela fragilidade da imaginação, que faz com que se torne o engodo pela verdade, que considera os sinais visíveis como indícios seguros de uma realidade que não existe [...]. (CHARTIER, 2002, p.75)

Segundo Chartier, toda a representação só se consubstancia numa prática que, por sua vez, produz uma forma de apropriação, sendo a história cultural o estudo dos processos com os quais se constrói o sentido. A apropriação tem como objetivo auxiliar a história das interpretações, mostrando que o leitor ou observador de uma imagem ou ouvinte de um discurso, não se mantém imparcial, ele absorve as informações que o conduzem a uma interpretação de si mesmo ou do próprio mundo.

[...] "A apropriação tal como entendemos visa uma história social dos usos e das interpretações, relacionados às suas determinações fundamentais e inscritos nas práticas especificas que os produzem. [...] nem as inteligências nem as idéias são desencarnadas e, contra os pensamentos do universal, que as categorias dadas como invariantes, quer sejam filosóficas ou fenomenológicas, devem ser construídas na descontinuidade das trajetórias históricas." (CHARTIER, 2002, p.68)

Para investigação das fontes primárias utilizarei a análise semântica como metodologia. Funcionará como auxílio na decifração da fonte, no "resgate" do discurso.

Como Gandavo via o índio no século XVI? Através dessa problemática buscarei compreender essa visão por meio das relações entre palavras exprimidas no documento, investigando a oposição, associação e identidade como "chave para a desconstrução do discurso".


5) NATUREZA DAS FONTES


Pero Magalhães Gandavo escreveu o "Tratado da Terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz no século XVI, antes de 1573. A obra foi publicada em Lisboa em 1576, na nossa terra a sua entrada deve ter coincidido com o governo de Men de Sá (1558-1573)".


A História da Província de Santa Cruz é considerada a primeira história do Brasil, apesar de restrita à descrição dos recursos econômicos, plantas e animais da nova terra.


Gandavo é natural de Braga e era descendente de flamengos, com o nome indica: Gantois era denominação para os moradores de Gand. Em seus livros, demonstra percepção geográfica ao descrever as árvores, os peixes e os animais, ressalta as belezas do céu e o bom clima aqui presente, com sua descrição promoveu incentivo a imigração para o Novo Mundo. Da história revela que a terra foi concedida por Deus, dessa forma os lusitanos poderiam usufruir as riquezas e propagar a fé católica.




6) PLANO PROVISÓRIO


Introdução:


Capítulo I: O Paraíso e o Inferno


Capítulo II: A Visão Lusitana
Análise da documentação primária, de Pero de Magalhães Gandavo.


Conclusão:




7) CRONOGRAMA



  • Descrição das etapas:
      1. Leitura e fichamento das fontes primárias;
      2. Confecção do trabalho;
      3. Revisão do texto final;
      4. Confecção do trabalho final.

  • Calendário



Etapas
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
1
X
X



2
X
X
X
X

3
X
X
X
X

4



X
X



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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